Fertilidade: o enigma da criação

Nestas semanas um programa de domingo está apresentando Fertilidade – um projeto de vida, em uma rede de TV, afirmando retratar a realidade de 8 milhões de brasileiros que, segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, querem ter um filho e não conseguem.

Certamente o desejo de formar uma família acompanha muitas uniões, mas a qualquer casal cabe certa reflexão, quer-se ter filhos ou engravidar? Deseja-se ter a experiência de sentir uma coisinha crescendo no ventre? Ou a experiência de cuidar e formar alguém na rotina do dia a dia? Ou, talvez, sentir que o próprio sangue segue para a posteridade?

Há muita coisa envolvida neste desejo de fertilidade. A medicina pode ter avançado, dominando certas técnicas que fornecem esperança a pais que sonham com a gravidez, contudo a fertilidade é, ainda, um grande mistério.

Uma parte do mistério envolve a transformação do corpo da mulher que se torna um vaso que passa a conter a semente que ganhou vida, que ela guarda e nutre em seu interior. Experiência que, hoje, embora possa ser filmada, nenhuma imagem ou palavra pode traduzir.

A mulher grávida mostra-se terra fértil para a semeadura, em certa dimensão, uma mãe de todas as coisas vivas, ao aceitar o outro em seu interior e lhe fornecer alimento. Ela deixa de ser a semente que contém toda a possibilidade do vir-a-ser, passando a realizar essa possibilidade. Experiência numinosa que torna a mulher elo de uma grande corrente da história da humanidade.

Muitas mulheres relatam se sentirem não só esplendorosas e plenas carregando um barrigão, mas também poderosas, afinal de contas estão  produzindo um bebê, contndo dentro de si todo o mistério da natureza e da criação da vida. Criar certamente é mágico, nos aparenta ao criador.

Porém, há muita pressão social envolvida neste desejo de ter filhos, além de haver muita idealização, a ideia de continuidade é uma idealização que funciona como um suposto “antídoto” contra a nossa própria finitude.

Além disso, não é toda mulher que quer se transformar em vaso nutridor. Para muitas, o tema comporta ambivalência, querem e não querem… Um lado deseja ver uma certa materialização do amor nos filhos, outro lado, não raro, tem medo, afinal filhos comportam responsabilidades.

Assim é o humano, cheio de possibilidades, mas também dúvidas e, embora mágica, a fertilidade não significa uma carta de habilitação para a maternidade (ou a paternidade). Esta é outra jornada.Resultado de imagem para imagem feto 2 meses

Autor: Verónica

Psicóloga, escritora, doutora em Sociologia. Professora e sempre aprendiz.

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